Se procurarmos pela definição de talento nos principais dicionários de língua portuguesa, compreendemos que ele é sinónimo de inteligência, entendida como um conjunto de disposições intelectuais que condicionam o êxito das pessoas; mas também de um nível superior de certas capacidades, destrezas ou habilidades.
Contudo, estes adjetivos serão suficientes para compreender o que realmente significa talento? Provavelmente não. Pelo menos não, no âmbito das organizações.
Pode ser-se inteligente e capaz e apesar disso não ser um “talento” – ou o talento – para uma organização. A definição de talento está, pois, estritamente relacionada com a ideia de geração de valor, traduzida na capacidade de acrescentar valor às organizações.
Quando falamos de talento no âmbito da organização, referimo-nos assim, ao conjunto de habilidades e competências notáveis, mas sempre voltadas para a satisfação das necessidades da mesma, em termos produtivos e de geração de valor.
Podemos falar em talento quando nos referimos a todos os trabalhadores de uma empresa? Nem sempre.
Nas organizações, a expressão talento refere-se a um conjunto de trabalhadores, os trabalhadores do conhecimento, que acrescentam valor aplicando o seu conhecimento aos produtos e serviços de uma organização.
Em ambientes de produção tipo cadeia de montagem, por exemplo, o talento é acessório ou invisível.
Poderíamos argumentar e dizer que um trabalhador acrescenta valor na linha de produção de um automóvel, porque o seu “conhecimento” consiste em apertar o mesmo parafuso, no mesmo lugar, em cada carro que passa à sua frente.
Mas isso seria obviar a capacidade geradora de valor, por parte de cada profissional interveniente numa atividade ou processo, como indicámos ao princípio deste artigo.
Eficiência e talento são aspetos diferentes e por vezes incompatíveis. Um trabalhador que desempenha o seu trabalho bem, a tempo e com qualidade, não é necessariamente um trabalhador com talento, mas sim um trabalhador eficiente.
Se a eficiência for levada ao extremo, através da realização de tarefas pré-determinadas, o talento ficará sem espaço para se desenvolver e estaremos perante um debate estéril.
Num ambiente tipo linha de montagem há pouca margem para a incerteza e a criatividade e o que procura muitas vezes é o inverso: o trabalho uniforme, metódico ou programado e qualquer desvio é interpretado como uma anomalia que o próprio sistema deve evitar.
Ora, um ataque direto à incerteza, à criatividade e aos desvios vão em sentido contrário da própria ideia de geração de valor, condições essenciais para falarmos em talento ou de profissionais com talento.
É necessário criar condições, desenvolver espaços, para que os profissionais de uma organização acrescentem valor àquilo que fazem, aplicando o seu conhecimento através de uma combinação de habilidades, capacidades e atitudes individuais. Sem esta visão atual, quando referirmos talento, estaremos a querer dizer talento desperdiçado.
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