A tecnologia está a ter um impacto cada vez maior no mundo do trabalho criando novas oportunidades. Mas representa também, e sobretudo, um conjunto de novos desafios para os quais ainda não estamos suficientemente preparados.
Apesar do seu impacto variar em função dos setores, regiões ou qualificações em que estivermos inseridos, a crescente automatização do trabalho é um processo, para alguns equivalente, a uma nova revolução industrial. As estruturas sociais do século passado são agora líquidas, flexíveis e globalizadas.
No âmbito dos Recursos Humanos uma das tendências mais evidentes é que a relação das pessoas com as organizações é e será cada vez mais diversificada. Hoje assistimos a um cenário onde cada vez mais profissionais assumem e gerem o seu “ofício”, respondendo com mais e melhores competências, conscientes de que a aprendizagem é um processo contínuo que os acompanhará ao longo da vida.
Por outro lado, é cada vez mais habitual, em consequência de este acelerado processo de mudança, vermos departamentos de Recursos Humanos gerirem interim managers, profissionais de empresas subcontratadas via outsourcing e em alguns setores, profissionais que trabalham “na nuvem” de forma remota ou deslocalizada.
As novas formas de trabalho, a par da crise económica, da globalização e da adoção de novas tecnologias, superam pela “via de facto” a contratação laboral tradicional – hoje é possível criar uma empresa e fazê-la crescer contando com profissionais e colaboração mas sem realizar um único contrato de trabalho – o que aponta para um nova realidade.
Os profissionais e as organizações mais atentas receiam, por isso, a Uberização dos seus negócios ou funções ou o que é ainda mais preocupante, a Kodakização rápida do seu trabalho (obsolescência) em resultado de um mundo novo que substitui o velho, mais lento e apanhado de surpresa por esta revolução.
Contudo, esta ameaça não afeta a todos os profissionais da mesma forma. Vejamos, por exemplo, o número de e-nomads na Europa (EU27). Em 2010 situavam-se em 24% o número de trabalhadores e-nomads, isto é, um quarto dos trabalhadores europeus não tinha um lugar físico habitual de trabalho e utilizava como principal ferramenta de trabalho as tecnologias de informação (computadores, email e internet). Apesar de não dispormos de dados recentes, sabemos, olhando à nossa volta, que esse número disparou nos últimos 5 anos.
Isto significa que do ponto de vista do emprego, corremos o risco de assistir a uma polarização do mercado de trabalho, no qual profissionais altamente qualificados (com conhecimentos, experiência, flexíveis e abertos à mudança, provavelmente e-nomads e knowmads) garantem melhores oportunidades ou perspetivas de emprego, enquanto outros de qualificação intermédia que efetuam atividades repetitivas, correm um risco maior de ver o seu trabalho ser automatizado.
(Gráfico: Fifth European Working Conditions Survey http://bit.ly/1PQWUuB)
Esta é apenas a ponta do iceberg de uma mudança importante que está a acontecer no mercado laboral e que se intensificará nos próximos anos.
O modelo baseado na economia manufaturada evoluiu, o emprego estandardizado sob forma de trabalhado assalariado respondeu a uma necessidade criada numa época dominada pelos processos de produção em massa. Por outro lado, o advento da sociedade pós-industrial propiciado pelo desenvolvimento tecnólogico fez com que o desaparecimento de postos de trabalho não viesse acompanhado por novos empregos em vários setores e ocupações.
O setor bancário é um exemplo clássico onde a incorporação de soluções home-baking e mobile-banking, aliada à crise imobiliária dos últimos anos, tem contribuído para que as principais operações bancárias se realizem através da internet, reduzindo substancialmente o número de sucursais e de horas de atendimento ao público. Outras inovações tecnológicas anteriores a estas como a introdução das caixas de multibanco (ATMs) contribuiram também, no seu momento, para a desmaterialização de várias operações no setor.
Em suma, o futuro está voltado para o trabalho do conhecimento e a produtividade. A principal preocupação do trabalhador do conhecimento, deverá ser, na medida do possível, evitar que o seu trabalho seja considerado obsoleto e substituível por máquinas ou software.
Os desafios identificados sugerem que se este profissional quer ver valorizado o seu trabalho e assim impedir que seja transformado numa mercadoria (commodity), deverá aumentar a variedade de tarefas em que está envolvido, o que requer uma aprendizagem informal constante, baseada na aquisição de conhecimento implícito – difícil de codificar ou partilhar.
O trabalhador “tradicional” é substituível, o talento baseado na aprendizagem constante e no conhecimento não. A criatividade, expertise, co-criação de conhecimento, conexões e inovação são os novos valores do trabalhador do século XXI e a sua principal resposta à ameaça da commoditização (commoditization) do seu trabalho.
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