Praxes Académicas – Ultimamente o país tem estado atento ao mundo das praxes académicas. Qualquer pessoa com sentido comum deve repudiar qualquer tipo de praxe violenta. Claro que ninguém vai proibir as praxes nem nada do estilo, mas é em momentos difíceis que se vê a decência e a altura política dos nossos representantes. Não é procurando culpados – e olhando o caso concreto – que se encerra uma questão destas.
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Sobre a “tradição inventada” da praxe, recomendo-lhes a entrevista feita pelo jornal público à socióloga Rita Ribeiro. Nela a professora da Universidade do Minho diz algumas coisas muito sensatas. Em relação às reitorias e às direções das universidades pouco ou nada há a fazer, a não ser expressar algum repúdio por sistematicamente sacudirem a água do capote, pensemos no que nos diz a socióloga Rita Ribeiro:
“Qual é o papel das reitorias ou das direcções das faculdades neste processo? Nunca tiveram muita vontade de expulsar as praxes ou de as domesticar sequer. Há aqui questões políticas, porque os reitores precisam de ter os alunos do seu lado. E, para muitos alunos, uma posição mais forte contra as praxes pode ser vista como uma afronta. A solução também não está numa rejeição completa, até porque as praxes parecem-me mais perigosas quando estão fora das universidades do que quando estão dentro. Algum equilíbrio da domesticação destas práticas é o ideal, mas não é fácil de se conseguir.”
E sobre a tradição da praxe acrescenta:
“O que explica esta necessidade de os jovens estudantes enfatizarem esta etapa da sua vida? Por um lado, há uma questão histórica e uma ideia de tradição, que é sempre usada como discurso legitimador. Depois, as praxes funcionam como um sinal da elevação estatutária que significa a entrada para o ensino superior. Para todos os efeitos, este ainda é um sector minoritário na sociedade portuguesa. Essa dimensão elitista leva a que se valorize a entrada na universidade. O traje e todos os signos da praxe são formas de os alunos sentirem um reconhecimento estatutário por parte da sociedade.”
“Dizia que a tradição aparece muitas vezes como discurso legitimador da praxe. Mas em universidades como a do Minho ou a de Aveiro, que são recentes, que tradição existe? É uma tradição inventada, como são quase todas. O que há é uma recuperação de práticas históricas que são mobilizadas para aquilo que são os interesses dos estudantes. Estas tradições existiam em algumas universidades antigas – no caso português, Coimbra. O que as universidades novas fizeram foi apropriar-se destas práticas e, simultaneamente, dar-lhes uma tonalidade local, recuperando histórias mais ou menos mitificadas acerca daquilo que os estudantes liceais de cada cidade faziam ou das instituições eclesiásticas que tinham uma componente de ensino superior. Isso é também uma forma de legitimação, sobretudo numa universidade nova que precisa de criar uma identidade.”
Leia o resto da entrevista à professora Rita Ribeiro aqui.
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